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Audiência pública pode suspender navios de cruzeiros em Armação dos Búzios

A Praça Santos Dumont, no centro de Armação dos Búzios, recebe, nessa quarta-feira, 30 de abril, uma audiência pública para discutir o licenciamento ambiental para a ancoragem de navios de cruzeiro na cidade.
A audiência foi determinada pela juíza federal Mônica Lúcia do Nascimento Alcântara Botelho, no âmbito de uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), que questiona a prática tão importante para a economia do município.
O evento tem gerado polêmica, já que, a depender da decisão, a cidade pode ser severamente impactada em caso de proibição da ancoragem de cruzeiros em razão de questões ambientais.
Segundo dados da prefeitura, entre outubro de 2024 e abril desse ano, a cidade teria recebido cerca de 100 navios de cruzeiros, com a passagem de aproximadamente meio milhão de pessoas, entre passageiros e tripulantes.
A estimativa é de que 13 milhões de reais foram injetados na economia local no período, com gastos médios de 750 reais por visitante, abrangendo os setores de alimentação, comércio, transporte e passeios turísticos.
Como forma de protesto, empresários e comerciantes do Centro, dos Ossos, e de bairros adjacentes anunciaram um “fechadão”, em que prometem fechar todos os comércios da região durante a realização da audiência pública.
De acordo com a presidente da Associação do Centro Turístico de Búzios (ACTB), Vana Lopes, o movimento já conta com mais de 40 lojistas, que devem suspender o funcionamento dos comércios da região por aproximadamente duas horas.
A preocupação dos empresários e comerciantes seria com a possibilidade de restrições severas, que podem levar à suspensão da ancoragem de navios de cruzeiros, devido ao alto custo das soluções ambientais propostas.
Entre os temas da audiência estará a exigência de instalação de boias de amarração, fundamentada em um estudo técnico de 2010, quando os navios eram menores, que exigiria a construção de fundações náuticas profundas para garantir segurança, e que pode custar dezenas de milhões de reais.
Especialista em logística marítima e portuária com 40 anos de atuação no setor, incluindo operações com navios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Luciano Oliveira explica que há 4 modelos principais de ancoragem para grandes embarcações como os cruzeiros que operam em Búzios.
Segundo ele, todos os 4 modelos exigem estudos técnicos rigorosos, mão de obra especializada e o uso obrigatório de práticos marítimos, o que elevaria ainda mais os custos operacionais para o município.
Além do alto custo, o especialista alerta para os impactos visuais permanentes que, mesmo os modelos mais simples, poderiam trazer para a paisagem de Búzios, que tem operação de cruzeiros por temporada e não um porto comercial que funciona o ano inteiro.
“O debate em torno das boias começou há cerca de 15 anos, sem base técnica adequada, e foi evoluindo até a audiência de agora. Mas os navios mudaram, cresceram, e as soluções precisam acompanhar essa realidade”, avalia Luciano Oliveira.
Caso a decisão impacte na chegada dos cruzeiros na próxima temporada, a cidade sofreria um enorme impacto econômico em restaurantes, lojas, quiosques, transportes turísticos, artesanato e prestadores de serviços.
“Eu dobro o estoque de cocos. O movimento dos cruzeiros é certo, é nossa garantia”, conta Edario Oliveira, que vende cocos no calçadão da Praia da Armação.
A visão do ambulante corrobora com o discurso da cidade, personificado nas palavras do secretário de Turismo, Thomas Weber, que ressaltou a importância do setor de cruzeiros para o desenvolvimento econômico da cidade.
“Receber navios de cruzeiro em Búzios é muito mais do que uma alegria, é uma oportunidade concreta de desenvolvimento para a nossa cidade. Cada tripulante e passageiro que desembarca aqui investe em nossos serviços, gerando renda e sustentando empregos locais”, completou Thomas Weber.