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Eleições em Arraial têm candidato preso com ligações com o tráfico de drogas
Uma matéria especial do repórter Rafael Soares, do jornal O Globo, batizada de “O Crime em Campanha”, publicada nessa terça-feira, 1 de outubro, aponta para a participação de um candidato a vereador em Arraial do Cabo em um esquema ligado às principais facções criminosas do país.
Mesmo preso desde 18 de junho, acusado de desviar mais de 6 milhões de reais em contratos com a Prefeitura de Arraial do Cabo, Marquinho de Nicomedes (PV), que teve o registro de candidatura indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio (TRE-RJ), e segue inelegível, terá seu nome nas urnas no pleito desse domingo, 6.
Apesar de poder ser votado, a situação com a Justiça Eleitoral segue o caminho da inelegibilidade, já que, em duas recentes decisões, de 16 e 26 de setembro, o TRE-RJ rejeitou recursos do candidato preso e manteve o indeferimento, o que deve fazer com que seus votos sejam considerados inválidos.
Mas a insistência em disputar uma cadeira na Câmara Municipal nessas eleições, mesmo atrás das grades, pode ter motivos ainda mais obscuros, e que envolveriam, de acordo com a reportagem de O Globo, ligações com o Comando Vermelho (CV).
Segundo a matéria publicada nessa terça, a ficha criminal de Marquinho de Nicomedes tem algumas prisões e duas condenações por tráfico de drogas, uma em 2008, condenado a 4 anos e 2 meses de prisão por transporte de drogas do Mato Grosso do Sul até Arraial, e outra em 2011, condenado a 5 anos e 6 meses após ser preso em flagrante na Rodoviária Novo Rio, quando levava drogas para a Região dos Lagos.
Além disso, o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) afirma que Marquinho de Nicomedes, que tem 600 mil reais em bens declarados à Justiça Eleitoral, abriu duas empreiteiras que venceram licitações, entre 2018 e 2020, durante gestão do ex-prefeito Renatinho Vianna (REPUBLICANOS) para a construção de 2 postos de saúde em Arraial do Cabo.
Mesmo com o dinheiro público depositado nas contas das empresas, sendo uma delas em nome de um “laranja”, as obras não saíram do papel até as irregularidades nas licitações virem à tona em 2021, durante investigações da Operação Toque de Caixa (na foto), e só foram concluídas durante a atual gestão, do prefeito Marcelo Magno (PL).
De acordo com o inquérito do MPRJ, as empresas que venceram as duas licitações foram a M. A. F. do Nazareth Incorporação e Construção, em nome de Marquinho de Nicomedes, e a Atlantic Construtora, em nome de Jerry Anderson de Araújo Silva, o Jerry da Coca-Cola, um auxiliar de serviços gerais que trabalhava na prefeitura, com salário de mil reais, considerado “laranja” pela promotoria.
Conforme a reportagem de O Globo, para garantir o direcionamento das licitações, Marquinho de Nicomedes pagava propinas a funcionários da prefeitura, entre eles o ex-vice-prefeito, Sérgio Lopes (REPUBLICANOS), e os ex-secretários de Saúde, Paulo Roberto Trípoli, e Antonio Carlos de Oliveira, o Kafuru, além do ex-secretário do Obras, Francisco de Assis Teixeira.
No total, são 16 pessoas apontadas como réus pelos crimes de organização criminosa, falsidade ideológica, peculato, corrupção ativa e passiva, ordenação de despesa não autorizada, falso testemunho e lavagem de dinheiro.
“As empresas do Marcos Nazareth (Marquinho de Nicomedes) só existem no papel. Não têm funcionários, não prestam os serviços, não têm clientes. A sede fica na casa dele. As duas firmas foram abertas exclusivamente para fechar contratos com o Poder Municipal e, assim, lavar dinheiro obtido com o crime. O Marcos ainda tem vínculos com o tráfico, o curral eleitoral dele está justamente nas áreas dominadas pelo Comando Vermelho. Nessas regiões, só candidatos apoiados por eles conseguem entrar”, afirmou ao jornal O Globo a promotora Tatiana Kaziris, responsável pela investigação que levou Marquinho de Nicomedes à cadeia, em junho desse ano.